Sorte, sucesso e empenho.

Muitas vezes consideramos que o sucesso de um empreendedor está ligado apenas ao seu empenho. Claro que é importante uma boa idéia, a descoberta de oportunidades para novos negócios, mas esses são pequenos passos no caminho do sucesso do "empreendedor empenhado". Na verdade, a cultura americana acredita exatamente nisso, e valoriza o capitalista bem sucedido, pois considera que seu sucesso é prova de seu esforço. Na verdade, quem primeiro observou isso foi Max Weber, mostrando que "povos" protestantes consideravam o sucesso de uma família prova de que essa família era parte dos "eleitos" de Deus e recompensava um bom comportamento.
O raciocínio é interessante, mas deve-se por outro lado tomar cuidado para não fazer o raciocínio inverso, ou seja, se alguém é mal sucedido, ou sofre um azar, isso é prova de que Deus não gosta dessa pessoa, de que ela não se esforçou o bastante, em suma, de que merece "o castigo" que está enfrentando.
Essa semana um pai esqueceu o filho no carro, repetindo uma tragédia do ano anterior. Os reporteres foram então em busca da mãe do menino que havia falecido no ano passado. Ela comentou que:"A imprensa veio aqui durante um mês, em busca de algo errado conosco. Queriam entender porque meu marido fez o que fez. Não encontraram nada, somos uma família normal".
Os repórteres, os taxistas, e nós, pessoas em geral, temos a tendência a "culpar" os seres humanos pelos infortúnios que lhes acomentem, o efeito está ligado a dissonância cognitiva, e é uma defesa contra o fato assustador que grandes tragédias podem acontecer conosco a qualquer momento, e não há nada que possamos fazer para evitá-las. QUEREMOS TER CERTEZA QUE ESQUECER O FILHO NO CARRO SÓ ACONTECE COM AS PESSOAS QUE MERECEM.
Por exemplo, é conhecido o caso da moça, que após sofrer um estupro, é avaliada pelas roupas que usa, como se usar mini saia pudesse provocar o abuso. O raciocínio das pessoas que pensam assim é:"Ela mereceu, pois usava roupas curtas, eu não uso, assim estou segura."
Bem, fato semelhante ocorre no mundo dos negócios, e muitas vezes, escutamos que "João quebrou porque não foi previdente. Veja só que aplicaram um golpe nele e não pagaram a mercadoria." Novamente, as pessoas não querem imaginar, que mesmo uma pessoa precavida, pode sofrer infortúnios, pode ser enganada, pode ter azar. Não se deve é claro considerar que o azar, ou a sorte, são as razões fundamentais do sucesso, mas ainda assim, temos que tomar cuidado ao avaliar os erros dos outros, pois normalmente há lições a serem aprendidas ali, mas elas não são garantias para ninguém.
Se ainda não convenci, pense em quantas empresas terminaram por problemas entre os sócios. Boa parte dos empreendedores sabe que sociedades são arriscadas, mas preferem ingressar num novo negócio acompanhados. Se eles vierem a ter problemas com os sócios, será que foi falta de "informação e preparo"?
Não se esqueça portanto que sorte existe, azar certamente, e esforço também.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Heutagogia

V EGEPE – Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas

Louis Jacques Filion