BRASIL QUE NÃO FUNCIONA

Texto enviado pela Rose Mary Almeida Lopes

Tenho um excelente professor no curso de Mba que insiste em dizer que no Brasil poucas coisas funcionam bem. Custei a acreditar que isso seria possível e comecei a investigar item a item e descobri, para meu completo espanto, que há um fundo de razão na afirmação dele de que aqui toda teoria vira de cabeça para baixo, toda regra se transforma numa bagunça, tudo o que funciona lá fora aqui dentro parece resistir a qualquer padrão lógico de entendimento.

Vou tentar dar alguns exemplos práticos e extremamente variados.

Setor de transporte – Ferroviário.

Esse setor está sendo recuperado e enfrenta um problema curioso. Tamanho da bitola.

Os países mais desenvolvidos do mundo têm transporte ferroviário nacional e internacional integrando-se perfeitamente nos países limítrofes: Eua, Canadá, México, quase todos os países da Europa.

A grande maioria das ferrovias no mundo utilizam bitolas de 1435 milímetros. Claro, no Brasil há um caos a esse respeito. Utilizamos bitolas de 1000 mm, 1600 mm, 1435mm (poucos quilômetros) e 1676 mm.

Dá para imaginar que a integração sugerida pelo Mercosul vai para o brejo, bem como internamente não há possibilidades da malha ser utilizada por uma composição singular ou única porque cada trajeto exige um equipamento diferente.

Porque aqui não foi usado a bitola padrão de 1435 mm? E porque essa bitola chama-se padrão?

O Brasil não adotou a bitola de 1435mm por medo de ter seu território invadido pelas estradas de ferro dos países vizinhos. Uma completa bobagem. O que antes foi um artifício de proteção hoje é um baita impedimento ao material rodande ferroviário para integração do Mercosul. A medida de 1435mm foi adotada desde os tempos dos romanos, que era a distância entre eixos das bigas, mais tarde adotada pelas carruagens, carroças, os primeiros trens e automóveis.

Ainda no setor ferroviário. Nos Eua cada 1000 kms de terreno tem 29 kms de estrada de ferro (trilhos, na França esse número sobre para incríveis 59 kms e no Brasil? Não passa de 3 kms!

Nossa matriz de transporte é a mais cara do mundo. Graças a Juscelino e sua maléfica insistência em adotar o rodoviário como padrão nacional de transporte. Nada mais caro e arcaico.

Cada Cv (cavalo vapor) movimenta apenas 500 quilos na rodovia, 1500 na ferrovia e mais de 2500 na hidrovia.

Temos mais de 10.000 kms de litoral e uma navegação de cabotagem pífia.


Armadores virtuais

Armador é a pessoa ou empresa que detém a propriedade de navios de transporte. Armadores virtuais são também considerados como tal, exceto que eles não possuem de fato as embarcações registradas em seu nome, mas tão somente os espaços disponíveis (praça). Os armadores virtuais procedem a aquisição dos espaços nos navios de carga e os negociam com os embarcadores (aquela pessoa ou empresa que tem a carga para transportar). No mundo inteiro os armadores virtuais são reconhecidos como públicos e de direito da mesma forma que os armadores reais.

Aqui no Brasil essa figura do armador virtual não existe e ninguém se preocupa em regulamentar esse importante componente da logística internacional de modais de transporte.

Incoterms

Os chamados Incoterms (International Commercial Terms / Termos Internacionais de Comércio) servem para definir, dentro da estrutura de um contrato de compra e venda internacional, os direitos e obrigações recíprocos do exportador e do importador, estabelecendo um conjunto-padrão de definições e determinando regras e práticas neutras, como por exemplo: onde o exportador deve entregar a mercadoria, quem paga o frete, quem é o responsável pela contratação do seguro.

Enfim, os Incoterms têm esse objetivo, uma vez que se trata de regras internacionais, imparciais, de caráter uniformizador, que constituem toda a base dos negócios internacionais e objetivam promover sua harmonia.

Na realidade, não impõem e sim propõem o entendimento entre vendedor e comprador, quanto às tarefas necessárias para deslocamento da mercadoria do local onde é elaborada até o local de destino final (zona de consumo): embalagem, transportes internos, licenças de exportação e de importação, movimentação em terminais, transporte e seguro internacionais etc.

São 13 os Incoterms e um deles é chamado de EXW (ex works) e é definido conforme abaixo:

alquer modalidade de transporte.

EXW - EX WORKS (...named place)

• A mercadoria é colocada à disposição do comprador no estabelecimento do vendedor, ou em outro local nomeado (fábrica, armazém, etc.), não desembaraçada para exportação e não carregada em qualquer veículo coletor;
• Este termo representa obrigação mínima para o vendedor;
• O comprador arca com todos os custos e riscos envolvidos em retirar a mercadoria do estabelecimento do vendedor;
• Desde que o Contrato de Compra e Venda contenha cláusula explícita a respeito, os riscos e custos envolvidos e o carregamento da mercadoria na saída, poderão ser do vendedor;
• EXW não deve ser usado se o comprador não puder se responsabilizar, direta ou indiretamente, pelas formalidades de exportação;
• Este termo pode ser utilizado em qualquer modalidade de transporte.

Em todos os lugares do mundo aplica-se a Incoterm EXW de forma corriqueira. Aqui no Brasil simplesmente ela não existe, logo aqui no Brasil podemos considerar apenas 12 as Incoterms e não as 13 originais, desta forma o Brasil não pode exportar nada direto para o importador usando EXW.

Aviação comercial

Bom nem preciso dizer que isso não funciona mesmo desde o acidente do avião da Gol mais o Legacy pilotado pelos Srs Lepore e Paladino que foram apontados como também culpados pelo acidente.

Justiça.

Perdoem-me, mas ela só funciona para os que conseguem pagá-la. Com raríssimas exceções, bem raras mesmo. Isso quando a justiça não serve para

dar guarida a ladrões, corruptos, vendedores de sentenças e por aí afora.

Impostos sobre bens de produção.

Sem sombra de dúvidas dá para contar em dois ou três dedos a quantidade de países que cobram esse tipo de imposto sobre: caminhões, tratores, aviões, carretas, vagões e coisas do gênero. São itens usados para transporte basicamente e deveriam ser isentados sob qualquer forma incentivando a renovação de frota, bem como o barateamento desse que é o mais caro transporte de todos eles aí incluindo o avião: transporte rodoviário.

Sim é verdade. Um caminhão custa menos que um avião. Só que esse não é o calculo correto.

Precisamos incluir toda a infraestrutura de estradas, pedágios, pavimentação, manutenção, postos de atendimento, oficinas. Por quilometro e por peso levando-se em conta essa matemática o rodoviário é sempre mais caro, além de transportar pouca coisa.

Temos que levar em conta, além dos custos acima o fator velocidade. Um avião pode fazer o trajeto Rio-SP várias vezes por dia já o caminhão ficará restrito a apenas uma viagem ou no máximo duas.

Política.

Bah! Nem precisamos comentar. A política é hoje a alavanca que impulsiona nosso país ao jurássico da história. É um peso enorme que só não podemos jogá-la no lixo porque ainda é um instrumento de nossa democracia. Caso contrário já podíamos ter transformado o Congresso Nacional num clube de rinha de galos que ninguém iria sentir falta, exceto os carrapatos que mamam sempre nessas tetas.

Agora o senhor malandro Epitácio Cafeteira quer engavetar qualquer possibilidade de colocar sob penalidade o outro malandro Renan Calheiros. Coisas de comparsas. De gente que monta gangue para surrupiar tudo o que vê pela frente e depois cada um tenta colocar terra na bela cagada do outro. (desculpem o palavrão, mas bem colocado assim é super sonoro).

Sabemos o cheiro de orégano que isso vai ter. Evidente. Na quadrilha que se transformou câmara dos deputados e agora o senado todos querem encobrir a todos e a felicidade gera solta nas paragens dos corruptos.

Tem dedo de Sarney nesse samba do crioulo doido outra pérola que nosso país produz em quantidades pantagruélicas.

Hoje nos jornais três partidecos PPS, PSOL e PV dão noticia que vão denunciar Renan caso ele escape incólume dessa patifaria do senado. Perda de tempo e recursos.

As três agremiações poderiam comprar as massas, o queijo e mais orégano que vão ser necessários para montar tantas pizzas. Ao invés de cometer tanto sacrilégio contra o bom moço Renan poderiam fundar a PIZZABRAS para dar suporte ao consumo exagerado da iguaria em voga nos corredores onde circulam as gangues que tomaram posse deste latifúndio.

Magno A Lopes é escritor da academia Piracicabana de letras, cadeira 24 de ciências, administrador de empresas com habilitação em gerenciamento de negócios internacionais, pós-graduando em comércio exterior e jornalista free- lancer. Piracicaba (SP), 18 de junho de 2007.

Comentários

Leoni disse…
Existem atualmente no Brasil no mínimo 8 bitolas ferroviárias, que são:
I -1,60m Na região sudeste SP, MG, RJ e em expansão pela Valec.
II -1,43m Ferrovia isolada Amapa-AP, linhas 4 e 5 metro de SP e metro de Salvador-BA (em implantação).
III-1,35m Bonde de Santos-SP turístico (Única no mundo).
IV- 1,10m Bonde Santa Teresa-RJ turístico/passageiros.
V - 1,00m Em praticamente todo território+bonde E.F.Corcovado-RJ e E.F. Campos do Jordão-SP turísticos.
VI- 0,80m Locomotivas Krauss da antiga Cia Docas de Santos.
VII- 0,76m Ligação São João Del Rey-Tiradentes-MG turístico.
VIII-0,60m Trecho Pirapóra-Perus-SP turístico (em restauração).
Destas, apenas a de 1,0 m com 23.678 km (73%) e a de 1,6 m com 6.385 km (27%) já inclusos os 510 km de mistas são relevantes, conforme dados da ANTT de setembro de 2011.
O governo paulista tem acenado com muitos projetos utilizando trens de passageiros convencionais regionais em média velocidade max. 150 km/h como SP-Campinas, SP-Sorocaba, SP-Vale do Paraíba, SP-Santos,
(Com cremalheira), utilizando parte da estrutura existente, semelhante projeto em curso na Argentina, numa expansão gradual e econômica,
porem nenhuma teve prosseguimento, pois seria uma forma prática de se demonstrar ao governo federal de como se é possível implantar
de forma gradativa, um trem de passageiros de longo percurso com custo, manutenção e tempo de implantação extremamente menor em relação ao TAV.
Entendo que deva haver uma uniformização em bitola de 1,6 m para trens suburbanos de passageiros e metro, e um provável TMV no Brasil,
e o planejamento com a substituição gradativa nos locais que ainda não a possuem, utilizando composições como destas 12, (36 unidades)
em que a CPTM colocou em disponibilidade em cidades como Teresina-PI, Natal-RN, Maceió-AL, João Pessoa-PB operadas pela CBTU que ainda as utilizam em bitola métrica, com base comprovada em que regionalmente esta já é a bitola nas principais cidades e capitais do Brasil, ou seja: São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Recife, e Curitiba (projeto), e que os locais que não a possuem, são uma minoria, ou trens turísticos.
Quanto aos desgargalamentos, entendo que deva investir urgentemente para construir o rodoanel, juntamente com o ferroanel norte e leste por questão de menor custo, alem de se reservar as últimas áreas periféricas paralelas disponíveis para estações ferroviárias em SP, como o:
I ª Pátio do Pari,
II ª Área entre a estação da Luz e Júlio Prestes (Bom Retiro) no antigo moinho desativado, e recentemente demolido.
III ª Cercanias da estação da Mooca até a Av. do Estado na antiga engarrafadora de bebidas desativada no município de São Paulo.
Notas:
1ª A bitola métrica existe em 39 países, sendo que na América do Sul ela esta presente nos seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile e Uruguai (mista, 1,43 + 1,0m em implantação ).
O Brasil tem fronteiras terrestres com dez países, sendo que a integração com o Chile se faz via Argentina.
2ª São seguintes as bitolas na Argentina em (km) ; 1ª 1,676 m- 23.191, 2ª 1,0 m- 13.461, 3ª 1,43 m- 3.086 4ª 0,75 m- 823 . Portanto, fica comprovado,
que como no Brasil, a bitola de 1,43 m é minoritária, com somente 8% de participação.
3ª Em nenhum dos principais países Sul Americanos a bitola de 1,43 m é maioritária e o modelo de trem rápido de passageiros a ser adotado pela Argentina é o TMV aproveitando parte da estrutura existente, semelhante ao projeto do governo paulista.
4ª A Índia, não é só a segunda maior população do mundo, como a segunda maior rede ferroviária ou seja em (km),1ª 1,676m- ~90.000, 2ª menor que 1,0m- ~3.350. Portanto muito maior do que a soma de Argentina, Brasil, Chile e Uruguai juntos, sem um único km em 1,43m!!!
Leoni disse…
(continuação do texto anterior)

5ª A bitola larga permite que se utilize a largura máxima padronizada para vagão de passageiros conforme gabarito, é de 3,15 m (Composições Budd), sendo que a Supervia-RJ esta tendo que cortar parte das plataformas para se adaptar as novos trens, enquanto a CPTM-SP que já á possui para este valor, quer prolongar em ~ 9 cm, pois as composições recebidas como doação da Espanha além de outras que não as Budd ter que trafegar com plataformas laterais no piso em frente as portas de ambos os lados, pois são mais estreitas, criando um vão entre trem e plataforma em ambos os lados.
6ª Padronizar gabarito de composições assim como forma de alimentação elétrica se terceiro trilho ou pantógrafo catenária é tão importante quanto a bitola, isto faz com que se tenha a flexibilidade das composições trafegar em qualquer local do país, sem que sejam feitas adaptações.
7ª Para visualizar e comprovar através de uma planilha de comparativo de custos de materiais ferroviários de que a diferença de valores entre as bitolas de 1,43m e 1,6m é mínima, veja: http://www.marcusquintella.com.br, entre outras, e esta tem uma explicação lógica, pois o que muda é somente o truque, pois o vagão, o gabarito e os demais equipamentos são exatamente os mesmos.
8ª Os custos de implantação e manutenção do TAV (acima de 250km/h) aumentam significamente em progressão geométrica em relação a trem de passageiros convencional para um mesmo percurso.
9ª São seguintes as dimensões de áreas úteis para vagões cargueiros, métrica: 2,2 x 14,0m = ~30,8 m², larga 3 x 25m= ~75 m², Significando que com a larga, é possível carregar até dois contêineres, ou dois caminhões ou vários automóveis em duas plataformas (cegonheiras) como já existiu no passado pela “Transauto”.
10ª Assim como acontece em outros segmentos industriais, a padronização e uniformização de materiais ferroviários, constitui-se num fator gerencial importantíssimo com relação a logística, racionalização e minimização de estoques e custos com sobressalentes, máquinas auxiliares e composições reservas.

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