As diferenças entre os mitos de empreendedorismo no Brasil e nos EUA

A revista The Economist publicou uma reportagem especial sobre empreendedorismo em sua edição de Março deste ano, entitulada ‘Global Heroes’ na qual, dentre uma série de importantes e relevantes informações sobre empreendedorismo nos EUA e no mundo, destaca-se, logo na primeira parte do artigo, a descrição dos cinco mitos que envolvem o entendimento do significado do empreendedorismo no contexto americano. Analisando cuidadosamente estes mitos podemos identificar consideráveis diferenças entre empreendedores brasileiros e americanos:
Mito 1: Empreendedores são órfãos e solitários, diz a reportagem, remetendo à imagem de heróis solitários que combatem um mundo hostil e anti-social com suas inovações. De fato é um mito porque, na verdade empreendedorismo é uma atividade social. Empreendedores podem ser mais independentes do que um empregado que simplesmente segue ordens, mas quase sempre ele precisa de ajuda e redes de contato para ser bem sucedido com seu empreendimento.
No Brasil, este mito seria relido da forma inversa: Aqui o empreendedor tem a plena convicção que sozinho ele não consegue nada. O pressuposto básico para começar um negócio é que ele tenha boas relações, conheça gente, tenha um sócio, esteja envolvido com especialistas da área e que um negócio só possa começar com chances de ser bem sucedido se estabelecer boas parcerias logo no começo. Isto é o mito para nós porque, na verdade, a maioria dos negócios no Brasil começa com o esforço pessoal do empreendedor. No começo ele trabalha sozinho mesmo. Embora ele consulte muita gente, seu início é mesmo solitário, principalmente porque ele tem medo que roubem sua idéia. As relações só são construídas depois do primeiro estágio de estabelecimento do negócio.
Mito 2: Empreendedores são jovens. O texto americano diz que a própria mídia reforça a imagem mitológica de empreendedores que começaram seus negócios na garagem de casa, ou abandonaram o colégio ou a universidade para embarcar na aventura empreendedora. É um mito porque muitos empreendedores começaram negócios de sucesso depois dos 50 anos.
O mito brasileiro seria assim: Empreendedores precisam ter experiência. Os jovens brasileiros que desejam seguir a carreira empreendedora invariavelmente afirmam que só vão perseguir seus sonhos depois de passar algum tempo ‘adquirindo experiência’ como empregado. Abandonar os estudos para abrir seu negócio está fora de cogitação para estes jovens. Um estudo realizado como jovens formandos em 10 universidades no estado de São Paulo revelou que, dos 62% que querem empreender, menos da metade se sentem seguros para abrir seu negócio logo depois de se formarem.
Mito 3: Empreendedorismo é conduzido por capital de risco. Segundo a reportagem, o empreendedor americano acredita que todos os grandes empreendimentos são subsidiados por investidores que apostam em negócios nascentes, de alto risco, em troca de altos retornos em pouco espaço de tempo. Isso é um mito porque este tipo de capital é limitado a um reduzido número de negócios inovadores, tipicamente nas áreas de software, semi-condutores, telecomunicações e biotecnologia. A grande maioria do capital necessário para abrir um negócio vem de recursos próprios ou de amigos e familiares.
O nosso mito é justamente o contrário. Para o empreendedor brasileiro, o capital de risco é inalcançável, são recursos escassos e os critérios usados pelos investidores são demasiadamente rigorosos. O empreendedor acha que este tipo de fundo não é para ele. Verificamos logo que isto é mais um mito quando vemos que os investimentos estrangeiros neste tipo de fundo dobraram no Brasil em 2007, atingindo US$ 2 bilhões segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital. O número de transações de investimento de risco saltou de 389 em 2005 para 718 em 2007, conforme a PricewaterhouseCoopers. A crescente oferta de capital de risco torna seu acesso mais fácil a uma gama cada vez maior de empreendedores, não só de negócios baseados em tecnologia.
Mito 4: Só pode ser considerado empreendedor aquele que cria um produto altamente inovador. O artigo considera isto um mito porque na verdade, a maioria dos empreendedores se concentra mais no processo do que no produto, como a melhoria em um processo de distribuição, a inclusão de um serviço junto com o produto ou um reposicionamento de mercado. As inovações radicais representam uma minoria dos empreendimentos de sucesso.
No caso brasileiro, o mito é, mais uma vez, o contrário. Aqui se considera empreendedor todo e qualquer empresário. Basta ter um negócio próprio e ele se denomina empreendedor, não importando se ele assume riscos, promove inovações, redesenha modelos de negócios, adota estratégias ousadas ou cria valores diferenciados para o cliente. Muitos empresários, ao contrário do empreendedor, têm medo de assumir riscos, não aceitam mudanças com facilidade, não tomam iniciativas nem enxergam oportunidades.
Mito 5: Empreendedorismo não pode acontecer em grandes empresas. De acordo com o texto, muitos acreditam que a falta de incentivos nas grandes empresas e o excesso de regras e burocracia impedem o surgimento da atitude empreendedora entre os funcionários e por isso empresas pequenas e jovens são mais empreendedoras do que as grandes. No entanto, grandes empresas estão adotando novos modelos organizacionais que promovam o empreendedorismo interno, seja através do enxugamento das suas pesadas estruturas ou por meio da segmentação das estruturas em unidades menores e mais independentes.
No Brasil isso não é diferente. Aqui também o empreendedorismo corporativo é pouco compreendido e são poucas as organizações que agem no sentido de estimular o comportamento empreendedor de seus funcionários.
(Este artigo foi escrito com exclusividade para a Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios e sairá na próxima edição)

Autor: Marcos Hashimoto

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